The Guardian: Entrevista com Mark Shuttleworth

"Linux é uma plataforma para todos, não somente para especialistas."



Mark Shuttleworth, Chefe Executivo da Canonical


Em 1999, o sul-africano Mark Shuttleworth vendeu sua empresa de internet, a Thawte, que fornecia certificados digitais para websites, por mais de US$500mi. Depois de gastar US$20mi numa viagem pelo espaço, ele iniciou o projeto Ubuntu - nomeado depois de uma palavra africana significar "Hummanidade para os outro", ou "Sou o que sou pelo que nós somos" - que se tornou a mais popular distribuição GNU/Linux.

Technology Guardian: Quanto a sua viagem ao espaço inspirou o Ubuntu?


Mark Shuttleworth: Ir ao espaço e ver a Terra à distância deixou muito claro quão independente nós somos. Então quis fazer algo que fosse realmente global; software livre é um fenômeno que é realmente global.


TG: Quais são as implicações de escolher esse nome?


MS: Essa é uma plataforma para o povo. O Linux veio de uma tradição de ser uma plataforma para especialistas. Deixamos muito claro o desafio em nosso nome: "Vamos fazer disso algo que possamos dar orgulhosamente às pessoas que não são apaixonadas por tecnologia."


TG: Como a sua empresa, a Canonical, se encaixa nisso?


MS: [O Ubuntu] tem seu próprio ciclo de lançamento. Ele tem a sua própria estrutura de direção. A Canonical tem um papel significante nisso, e nós somos o maior parceiro em todo trabalho que é feito. Damos certeza que o lançamento será na data prevista; que estará disponível mundialmente; que satisfaça as expectativas; que funcione atrevés de uma certa quantidade de hardware que terceiros nos pedem para certificar. Mas não levamos crédito por todas as idéias inteligentes que aparecem no Ubuntu. Na verdade, em quase todos os lançamentos houve alguma idéia que veio de um voluntário e que se transformou num recurso profundamente importante nesse lançamento.


TG: Percebi que você tem uma forma pouco comum para escolher as pessoas que você empregou originalmente na Canonical.


MS: Simplesmente li um grande número de correspondências entre os desenvovedores de um dos projetos que é fundamental para o modo como fazemos o Ubuntu, o projeto Debian. É impressionante a diversidade de como as pessoas pensam, a profundidade de suas experiências. Portanto, o software livre não é somente um modo maravilhoso para desenvolver seu próprio talento e habilidade, mas também é uma ótima maneira de conseguir um trabalho e um ótimo jeito de conhecer pessoas.


TG: Qual é o modelo de negócios da Canonical?


MS: Nosso modelo de negócios é totalmente baseado em serviços em torno do nosso software. Como a Canonical faz um papel fundamental no Ubuntu, mesmo não monopolizando o acesso a ele, somos um parceiro preferencial do Ubuntu. Seja no suporte técnico, achamos que as pessoas são mais propensas a comprar de nós do que qualquer outra empresa, seja em sua engenharia, customização ou habilitação de plataforma em um hardware em particular. A Canonical tem uma posição privilegiada.


TG: Você está mesmo perto de falir?


MS: Não perto. Precisará de tempo e investimento. Nos posicionamos pelo o que vemos como o futuro do software - sem licenciamento de software, pessoas tendo acesso ao software que quiserem na hora que desejarem. O ecosistema de serviço em torno do software irá financiá-lo. E se somos a empresa que melhor tem se antecipado a esse futuro, então estaremos melhor posicionados para se beneficiar dele.


TG: Como aconteceu o acordo para colocar o Ubuntu nos PC's da DELL?


MS: Descobrimos sobre ele depois de ser um fato consumado. [A DELL] é uma empresa com muitas entregas. Eles perguntaram a seus usuários o que eles queriam. Eles tinham muitas informações e essas informações apontaram para nós. Foi um pouco inquietante porque não tinhamos qualquer relação. Mas foi um significante passo à frente em nosso perfil corporativo. Será muito interessante ver o que somos capazes de fazer com empresas como a DELL, que são aclamadas por uma grande audiência. Esse é o meu desafio número um: Como fazer do Linux algo que você queira manter em seu computador.


TG: Você lançará uma versão adaptada do Ubuntu para o setor de ultra-portáteis?


MS: Estamos anunciando ela na primeira semana de Junho. É chamada de Netbook Remix. Estamos trabalhando com a Intel, que produz chips customizados para esse setor.


TG: Você acha que o GNU/Linux se tornará algum dia uma força importante em desktops?


MS: Acho que isso depende de como as pessoas definem desktop. Se as pessoas continuam definindo um desktop com a coisa em que elas rodam o Microsoft Word, então o Windows manterá sua posição. Minha impressão, contudo, é que as pessoas estão cada vez mais definindo o desktop como uma coisa que elas tem acesso à internet. Nesse caso, há uma possibilidade real que somos capazes de mudar as pessoas para plataformas diferentes. Creio que é o crescimento da internet como a assassina de aplicações desktop, o que descreve o que você quer de um computador, que abrirá as portas para nós.


TG: Recentemente você publicou uma crítica à ISO pela maneira como ela lidou com a votação sobre o OOXML da Microsoft; Quanto você acha que a credibilidade da ISO foi danificada nesse episódio?


MS: Muito seriamente para qualquer pessoa que é apaixonada pelos padrões abertos. O processo da ISO vem tradicionalmente funcionando muito bem; quase um processo acadêmico, mas ela realmente não foi projetada para lidar com um lobby corporativo muito, muito vigoroso e uma enorme quantidade de dinheiro sendo gasta para tentar conseguir um resultado particular. E relembrando, houve uma quantidade de falhas muito sérias no processo.


TG: Com o Ubuntu ganhando importância, você não sente uma grande responsabilidade falando dessa maneira?


MS: Acho que todos nós temos a responsabilidade de contribuir com o debate público. Tenho um nível de independência econômica, que talvez seja uma coisa boa e ruim, mas pelo menos minha opinião não pode ser comprada facilmente.


Fonte: Glyn Moody@The Guardian

 
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