O homem que usa o chapéu vermelho


James M. Whitehurst, CEO e presidente da Red Hat, em sua recente visita à Índia falou com a CyberMedia News sobre muitas questão polêmicas em torno da tecnologia open-source e suas nuances de negócios. Tipo, como fazer dinheiro com algo livre e aberto? Por que o OOXML não impactou o suficiente? Por que a Índia estão em vantagem no mundo open-source? Bem, o chapéu dele abrange todas elas. Aproveite.

Muitos tentaram, testaram e tatearam. Mas ninguém tem tido tanta sorte trabalhando com um modelo empresarial bem sucedido em torno do mundo open-source. Qual é o truque? São os serviços e suporte periféricos ao núcleo aberto que tornam possíveis as receitas?

Não exatamente. O open-source é um conceito que existe há pelo menos 15 anos, mas ainda é relativamente novo. Nós somos a única empresa lucrativa e pública. Por que todos não são capazes de fazer dinheiro com algo que é tão inerentemente bem sucedido quanto a tecnologia? A economia da abundância está no contexto do poder do open-source. E existem duas palavras, inovação e colaboração.

Até ontem, o modelo de copyright estava operando e muitas pessoas poderiam requisitar por pagamentos no open-source. Mas isso minava fundamentalmente o poder do open-source. Hoje, quando você torna o software aberto, existe outro problema. Como ganhar dinheiro? Muitas pessoas começaram com o modelo de suporte que você está insinuando. O que a Red Hat fez foi, fundamentalmente, diferente do modelo empresarial. Não é o caso de tentar capitalizar os bits ou os serviços. Todos conseguem fazer isso. A visão-chave é que o modelo de desenvolvimento do open-source é em torno da repetição.

Agora, se a NYSE, por exemplo, tem um software crítico rodando sobre plataforma open-source, a última coisa que eles querem são mudanças repetitivas de impacto. Nesse momento, nós intervimos e garantimos que o software livre seja prático para a empresa, e seja completamente interativo, totalmente testado, configurado para alta performance, certificado e equipado com documentação, com ANS (Acordo de Nível de Serviço), aspectos locais, repetidas mudanças no desenvolvimento, tudo. Nós somos as pessoas que fazem isso e garantem a estabilidade dos bits testados em implantações de software crítico. Além disso, nós nos comprometemos a suportar o software por sete anos. E não apenas suportá-lo, mas torná-lo à prova de balas.

Esse modelo é tão sustentável ou lucrativo quanto os modelos tradicionais?

Se falamos de assinaturas, nós mudamos fundamentalmente o modelo falido de software empresarial. O modelo empresarial necessita de resultados. Veja os ciclos artificiais de upgrade dos software de outrora. Cerca de 80% dos recursos poderiam não ser utilizados pelo usuário. Por que desenvolvem novos recursos que eles não usam e não vão usar? O Vista é o melhor exemplo. Não há nenhuma funcionalidade realmente nova. Mas upgrades são feitos para impulsionar as receitas.

Não adicionamos recursos que os usuários não querem. E eles continuam a nos pagar. Ainda assim, somos o maior contribuidor do Linux. Nós escutamos; nós prestamos atenção às necessidades deles, às queixas e, por conseguinte, adicionamos as funções. Certamente que o software livre é um modelo de desenvolvimento muito poderoso. Nós damos valor a ele. Não se trata apenas de suporte. O open-source, em suma, é um modelo de desenvolvimento e não um modelo de implementação. Ele não tem que ser implantado como uma solução. Desempenhamos uma função tornando-o prático para as empresas.

Qual é a sua opinião sobre o recente tumulto entre o desenvolvimento do ODF Vs OOXML por padrões abertos?

Obviamente estamos desapontados. Isso apenas mostra que a Microsoft detém muito poder comercial nessa área também. No longo prazo, entretanto, a publicidade que esse novo desenvolvimento gerou ajudará, felizmente, no debate da questão. Mais países usarão o ODF e, por conseguinte, propostas sobre o software livre. Mais lobby governamental está sendo visto. Em geral, isso só vem alertando consciências.

Então um modelo open-source lucrativo já não é mais um paradoxo?

Não. O modelo de desenvolvimento é aberto. É uma questão de quanto você pode igualar o ritmo de interação repetitiva e torná-la consumível pelas empresas. O software empresarial não se trata de funcionabilidade apenas, mas também sobre mudanças em conjunto num ambiente de produção. É muito difícil mudar especificações dinamicamente, manter pilhas de hardware, compatibilidade e certificações. Se você fala de nós, nós capitalizamos não só sobre o software livre, mas sobre o valor que ele tem.

Muitos casamentos foram testemunhadas no passado recente sobre o altar do open-source. Como você interpreta a consolidação das ações com acordos como Microsoft-Novell, Sun-MySQL, Yahoo-Zimbra?

Eu não desprezo nada disso. Dito isso, muitos não se deram conta da real essência. O poder do software livre está na maximização da comunidade e da colaboração. A Sun controla a maior parte do domínio do desenvolvimento. Eu não sei, nesse ponto, como, exatamente, eles fazem o modelo funcionar. Temos 100% de certeza que o software livre conduz a uma maior clareza estratégica.

A idéia da economia de abundância retorna à discussão. Nós não controlamos o Linux. Mas fazendo as mudanças constantes que aparecem no desenvolvimento principal, levar ao público o mais rápido possível é o objetivo. Uma vez houve a necessidade de bancos e serviços financeiros por real-time no kernel. A Novell já possuia essa funcionalidade mas eles nunca a publicaram, então quando nós publicamos, eles tiveram que abandonar essa exclusividade. O Linux inteiro se moveu nessa direção.

Qual é a sua opinião sobre o rumo que o Google está, aparentemente, tomando no território aberto com idéias como o Chrome e o Android?


Eu aplaudo o que eles fazem. Eles criam e financiam muitas coisas em torno do software livre, distribuindo os códigos e sobre a GPL. Há muito debate em torno da GPL2 e GPL3. O Google é um potencial criador de grandes talentos. Não há dúvida de que é uma grande empresa com muitos recursos humanos. Também compreendo a preocupação verdadeira em torno do SaaS (sigla em inglês para "Software como serviço") em relação à indústria de software.

Quais são os destaques estratégicos desse ano da Red Hat?


A infra-estrutura de software livre da empresa não é somente em torno do Linux, há também ferramentas de gerenciamento, segurança, virtualização. Então, esse ano, estaremos anunciando mais produtos. Áreas como componentes de seguranças, funcionalidades em rede, mensagens em alta velocidade, funcionalidades em novas arquiteturas, etc; será excitante. A virtualização foi "raptada" na consolidação de servidores. Estaremos a melhorando com competição. Há uma grande oportunidade para nós. Mobilidade de aplicações é importante. Estaremos fortemente competindo em áreas como virtualização além de áreas como ferramentas de gerenciamento em rede, e alavancariam completamente o cloud computing tanto internamente quanto externamente.

O que você acha da inclinação de projetos digitais indianos para o software livre?

A parte impressionante é o relativo tamanho dos projetos e o claro compromisso com o software livre. A Europa também está em direção do software livre. Na Índia, vemos um profundo nível de transferência de conhecimento e o governo olha para o futuro, afinal ele promove um grande processo e uma grande adoção. É impressionante.

E qual a sua opinião sobre a Índia com essa viagem?

A Índia tem muitas oportunidades para saltar no caminho do desenvolvimento assim como na implementação so software livre em grande escala. A Índia é classificada como a segunda maior comunidade em termos de contribuição para o código do kernel Linux. O tamanho dos projetos, da integração, do desenvolvimento e da escala de desenvolvimento é notável e único na Índia. A Índia também é um importante mercado de uma perspectiva de escala.

Minhas impressões da Índia é que ela é extraordinária em termos de tamanho e ritmo de crescimento. Também de uma perspectiva tecnológica, se você observar os Estados Unidos, eles estão se atualizando, mas, na Índia, você pode ver muitos projetos e iniciativas começadas do zero. É extraordinário. A Índia tem um dos maiores números de engenheiros certificados, maior do que os Estados Unidos. É um mercado muito qualificado.

A grande vantagem da Índia no sistema de integração é maravilha, o que será muito importante para o movimento mundial em torno do software livre. Cerca de 70% das aplicações terão software livre.

Fonte: Ciol News
 
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