Famelix e os perigos da luta contra o Windows

Davi e Golias, de Caravaggio

Um dos debates perenes sobre desktop GNU/LInux é o quanto ele deve se parecer com o Windows. Normalmente, o debate é em torno de como o desktop deve parecer familiar a novos usuários, ou ser desenvolvidos de maneira que pareça mais lógico. Entretanto, se a expreriência da distribuição brasileira Famelix é alguma indicação, imitando o Windows e o ultrapassando, isso também pode abrir brechas para ameaças, como acusações de pirataria e mudanças de política por gerenciamento "Windows-centrico".

Famelix está registrado pela Faculdade Metropolitana de Guaramirim (FAMEG) em Santa Catarina, onde é desenvolvido. A distribuição é baseada no Debian e usa o KDE como desktop, com papel de parede e outras modificações projetadas para aumentar a semelhança com o Windows XP, ou, como na última versão, chamada de Hasta la Vista ("Adeus" em espanhol), com o Windows Vista.

A distribuição é comandada por David Emmerich Jourdain, um professor alemão de nascimento que mora no Brasil desde 1992. Jourdain se tornou um defendor do software livre depois de ouvir um discurso de um grupo de usuários locais enquanto cursava seu mestrado em Stanford. Quando a FAMEG ofereceu-lhe o emprego, a faculdade possuia somente uma única sala de computadores que rodavam cópias ilegais do Windows. Jourdain disse que aceitaria a vaga somente se ele pudesse implantar software livre por toda faculdade e tivesse tempo de provar suas vantagens. "Minha principal intenção não era trabalhar com software proprietário, fosse legal ou não", disse ele.

Quando a FAMEG concordou com as condições dele, Jourdain imediatamente foi à fonte do problema: Ele era a única pessoas na faculdade com conhecimentos de software livre. Como resultado, ele teve de treinar seus alunos assistentes para compilar e aplicar patchs no kernel, assim como programar em Qt, PyQt, C++, Kdialog e linguagens script.

No início, ele também percebeu que uma interface muito diferente do que ele esnoba como "Terra dos Teletubbies" (presumidamente uma referência ao tema padrão do Windows XP) seria uma barreira para a aceitação, e decidiu fazer o desktop o mais similar possível do Windows.

Ao longo dos 5 anos de existência do Famelix, cerca de 70 estudantes foram envolvidos em seu desenvolvimento. Atualmente, a distribuição é mantida e desenvolvida por sete estudantes, com ajuda ocasional de outros 18. Durante esse tempo, Jourdain viu a distribuição do Famelix de suas máquina privada para os laboratórios da faculdade e máquinas administrativas. Além do mais, "muitos alunos estão usando o Famelix em seus computadores pessoais", disse ele, "e eles têm espanhado sua utilização pelo seus locais de trabalho após a graduação".

Assim como qualquer distribuição GNU/Linux, a adaptação é difícil para migrar para o Famelix. Entretanto, outros usuários da distribuição incluem 62 unidades militares, escolas e centros de inclusão digital por toda América Latina. Em seu site, a distribuição tem mais de 22 milhões de downloads - ao menos 14 milhões deles nos últimos 12 meses, principalmente graças aos primentos lançamentos com suporte ao alemão, inglês e italiano, além dos já suportados espanhol e português.

Problemas com a Microsoft

Mas esse sucesso parece que atraiu o tipo errado de atenção. Em 2005, Jourdain e o diretor de infraestrutura da FAMEG receberam a visita de dois representante da Microsoft, na qual ofereceram a "maravilhosa" chance de comprar o Windows para a faculdade pelo custo de alguns milhares de dólares.

"Minhas primeiras perguntas foram sobre a liberdade que devemos ter para desenvolver e aplicar no sistema", recorda Jourdain. "Claro que sabiamos as respostas. Nesse momento, terminei a conversa com "Como pode ver, nossos interesses não são os mesmos. Queremos criar desenvovedores. Vocês querem vender. Acredito que uma proposta nisso nos interessa.""

Os representantes da Microsoft disseram que, se a faculdade não comprasse as licenças, a única solução seria o uso de cópias piratas do Windows. "Minha resposta foi muito direta", disse Jourdain. "Nós usamos GNU/Linux. Assim, se temos ou não o seu sistema não faz a menor diferença. Tenham um bom dia."

Se os representante da Microsoft confundiram o Famelix com o Windows ou estavam agindo maliciosamente é incerto, mas, duas semanas depois a faculdade recebeu uma notificação que ela estava sendo investigada por uso ilegal de software. Um representante de justiça brasileiro, dois oficiais de polícia e uma técnico em computadores logo chegariam na faculdade.

De acordo com Jourdain, um dos oficiais de polícia era aluno da FAMEG e estava familiarido com o Famelix. Ele disse ao representante de justiça que a investigação era perda de tempo, mas ela iria continuar de qualquer maneira.

Depois de checar todos os computadores da FAMEG, o representante de justiça se desculpou e preencheu os relatórios necessários na investigação. E quando estava saindo, ele pediu: "Você pode instalar esse Famelix para mim?".

Depois disso, lembra Jourdain, "nunca mais tivemos problemas com nossos amigos da Microsoft de novo".

Mas ele ainda continua

Infelizmente, a Microsoft não é a única parte do mundo Windows que pode causar dificuldades para a bem sucedida distribuição. No mês passado, Jourdain recém chegado de uma conferência ouviu que a faculdade estava sendo vendida para a Uniasselvi, um grupo de educação privada cuja imagem, de acordo com fontes brasileiras, não é "muito boa".

Jourdain imediatamente ficou preocupado, pois, a Uniasselvi usa somente windows, e ele acredita que a maioria das cópias não são licenciadas. Como se não bastasse, o primeiro ponto levantado foi se o Famelix deveria ser continuado.

A questão sobre o futuro do Famelix continua incerta, e a falta de resposta fizeram Jourdain hesitar sobre ser entrevistado para esse artigo. No entanto, no final, aconselhado por Alexandre Oliva, um membro do fórum do FPF Latino Americano, Jourdain concordou em participar, esperando que a publicidade possa influenciar a diretoria da faculdade, e, talvez, trazer ajudar e sugestões para juda-lo a proteger o futuro da distribuição.

Se esta última ameaça é independente é incerto, e realmente não importa. De qualquer maneira, o Famelix se provou que uma alternativa para o Windows parece ser apenas a primeira batalha em sua luta pela existêcia.

Fonte: Bruce Byfield@Linux.com

 
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