Preenchendo o abismo digital brasileiro

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Essa semana, o programa BBC World Service Digital Planet está no Brasil. Hoje, o programa investiga como o entusiasmo do país por tecnologia está atingindo nesse momento crianças de todas as origens.

É estimado que exista 45 milhões de PCs no Brasil, tornando-o o quinto maior mercado do mundo para computadores.

O número mais impressionante, entretanto, é a fração da população que não tem acesso à tecnologia.

"As estatísticas do último ano mostraram que 59% dos brasileiros nunca acessaram a internet ou usaram um computador", disse Rodrigo Assunção, chefe de uma comissão que aconselha o governo do Presidente Lula no que eles chamam de "inclusão digital".

Mas medidas estão sendo providenciadas para mudar esse quadro, disse Assunção a Gareth Mitchell da BBC. Ele acha que ser tecnologicamente educado é tão importante quanto as noções matemáticas básicas e alfabetização.
59% dos brasileiros nunca acessaram a internet ou usaram um computador
Uma divisão digital ou social?

"Quando você pensa sobre o Brasil, você pensa num país que é extremamente dividido entre ricos e pobres e áreas que são desenvolvidas e sub-desenvolvidas", disse Assunção.

Ele acha que a divisão entre classes dentro da sociedade brasileira é a culpa para a divisão tecnológica.

"Nos anos 50 existiu um brilhante educador brasileiro que disse que as escolas públicas deveriam fornecer para as crianças pobres tudo o que as crianças ricas tinham em suas casas."

A maioria das crianças de classe média são educadas com computadores, e isso se torna uma segunda natureza para elas, afirma Assunção.

"É como um canivete suíço, uma ferramenta com múltiplas utilidades que a ajuda, essa é a experiência de uma criança de classe média no Brasil."
"Essa diferença entre quem domina essa tecnologia e quem é dominado pela tecnologia determina em nossa sociedade quem manda e quem é mandado" ~Rodrigo Assunção
Por outro lado, uma criança pobre talvez não tenha acesso a um computador até a adolescência, momento em que é necessária entrar no mercado de trabalho.

"Somente quando ele tem doze ou quatorze anos, se ele tiver sorte de morar ao lado de uma associação de bairro que tenha um computador, ele será então ensinado sobre algo de processamento de texto e navegação na internet."

"Ele será ensinado que precisa aprender essas habilidades afim de ter alguns direitos dentro do mercado de trabalho", acrescentou Assunção.

"Ele aprende que ele tem que agir em conformidade com a tecnologia e essa percepção, essa diferença entre quem domina essa tecnologia e quem é dominado pela tecnologia determina em nossa sociedade quem manda e quem é mandado, que tem acesso ao dinheiro e quem não tem e quem tem acesso a direitos e quem não tem."

Conectado para mudar

Assunção disse que 56.000 escolas públicas estão atualmente sendo equipadas com internet de banda larga, com o objetivo de ter todas as escolas públicas urbanas no país conectadas até 2010.

O governo brasileiro também está envolvido com o projeto Um Laptop Por Crianças (OLPC), projeto que fornece um computador portátil básico para crianças em países em desenvolvimento.

Seus fabricantes foram capazes de produzir um máquina de baixo custo usando um processador menos potente e retirando partes caras, como o disco rígido por exemplo.

Roseli Lopes, da Universidade de São Paulo, coordenou um teste do projeto OLPC na Escola Ernani, noroeste de São Paulo, que já está em seu segundo ano.

"É uma experiência maravilha para as crianças, já que elas amam vir à escola e não querem ficar em casa", disse a Professora Lopes.


56.000 escolas públicas serão conectadas com banda larga até 2010.


O projeto do laptop funciona bem em classes com um grande número de crianças, afinal os computadores habilitam cada um a ir conforme o próprio ritmo e nível.

"É um aprendizado ativo, eles tomam partido da busca por informação e eles não ficam esperando pelo professor", disse a Professora Lopes.


"Eles estão se divertindo mais usando essa tecnologia, não apenas lendo e escrevendo, mas fazendo vídeos e tirando fotos", ela acrescentou.


As crianças no Brasil passam apenas quatro ou cinco horas na escola, e ser capaz de levar o laptop para casa estende o tempo que eles têm para aprender.


"Esse é o aspecto mais importante sobre esse projeto: quando eles vão para casa, podem continuar aprendendo e incluem suas famílias no processo", disse a Professora Lopes.


"Até se os pais não sabem ler ou escrever, eles podem usar a câmera para tirar fotos e fazer o aprendizado mais rico."


Outras soluções


O governo brasileiro também está testando outros projetos de laptops em outras cinco cidades, aplicando o Classmate da Intel e o Simputer da Encore.


A principal preocupação em usar diferentes laptops é que ele precisam ser interoperáveis, essa é uma das questões que a Professora Lopes e seus colegas estão avaliando constantemente.


Entretanto, a idéia de as crianças serem capazes de acessar máquinas tecnológicas é apenas parte da solução no preenchimento dessa divisão digital.


As crianças no Brasil passam apenas quatro ou cinco horas na escola


"Achamos que foi uma boa idéia, mas imediatamente decidimos que não poderia conduzir como a busca pelo próximo dispositivo", disse Assunção.


"Além disso, o governo brasileiro tem uma profunda convicção de que o software livre é o caminho a seguir, então nós estamos exigindo que exista um conjunto de software livre e gratuito instalado nesses computadores."


"A idéia de ter software fechado em computadores público é algo que me soa errado", ele acrescentou.


Com banda larga amplamente disponível, os laptops na mesa de muitos dos jovens do Brasil, e uma cultura open-source, de software livre, o abismo digital brasileiro parece estar diminuindo.


Fonte: BBC News

 
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