A galera do "apenas funcione"

Um das coisas que tenho visto cada vez mais ultimamente é uma atitude "eu quero apenas que funcione". Estranhamente, essa não é uma atitude nova, mas conforme nos expandimos em novos mercados e avançamos por novos grupos de usuários, começamos a encontrar pessoas como essas mais freqüentemente.

Parte dos motivos por trás disso é que já coletamos todos os frutos acessíveis de diferentes tipos de árvores ao longo do caminho. Nós coletamos todos (ou a maioria) os super geeks, administradores de sistemas e os power users. Mas agora, conforme começamos a pegar os consumidores diários normais, começamos a encontrar várias pessoas da galera do "apenas funcione".

Essas são, tipicamente, as pessoas que não querem pensar sobre o que estão fazendo com um computador ou qualquer coisa além de seu trabalho. Elas querem apenas apontar, clicar e que aconteça o que elas querem. Mais ou menos como os botões de apertar mentalmente dos Jetsons.

Eu vi isso não só na conferência de imprensa na da Sandisk, como também na da Samsung, Sony, Toshiba, Panasonic e nos outros grandes estandes da CES. O foco na galera do "apenas funcione" pareceu ser o centro do marketing deles. E advinha? Está funcionando.

E por que estamos reclamando quando as pessoas anseiam por sistemas que são super simplificados? No entanto, agimos como se fosse um pecado herege se alguém realmente queira que uma interface de usuário que seja dinâmica, simples e sem funcionalidades e reconfiguração expandidas. O incrível número de opções reconfiguráveis do KDE é um dos motivos pelos quais eu adoro ele, e odeio o GNOME porque esse nível de reconfiguração está ausente. Mesmo assim, estranhamente, as pessoas gostam. Então, se não se importam em perder algumas ferramentas poderosas em troca de uma maior facilidade de uso, que assim seja.

Esse é uma das coisas que levou as pessoas aos Macs por anos. Essa super simplicidade. Nós, por outro lado, como power users, eu mesmo especialmente, continuamos agarrados na mentalidade de que "deve ter funcionalidades, reconfiguração e opções poderosas". É por isso que o Ubuntu e o Mint são tão populares com os usuários normais, mas o FreeBSD, Arch e Slackware estão em alta com os usuários mais assíduos. Se você gosta das coisas simples, vá por um caminho. Se gosta das coisas mais potentes com grande quantidade de opções configuráveis, vá por outro caminho.

E antes de ser egocêntrico e chamar a galera do "apenas funcione" de idiotas, olhe para si mesmo. Você provavelmente dirige um carro, certo? Se não, apenas me acompanhe nesse exemplo. Você entra no seu carro, gira a chave, acelera e sai dirigindo. Você quer saber como as coisas funcionam sob o capô? A não ser que você goste de mecânica, a resposta geralmente é não.

Você quer que "apenas funcione", apesar dos fanáticos por mecânica espernearem porque os carros modernos "apenas funcionam" e não há mais nenhum esforço real requerido para manter o carro funcionando, além de manter o carro bem abastecido com gasolina, óleo e pneus. Ainda assim, para muitos deles, um carro super simples, especialmente aqueles que você não pode modificar, é um pecado mortal. E mesmo assim você não tem problema com isso.

Mas você vai espernear porque um outro alguém quer a mesma coisa básica, mas numa interface de um computador? Isso é um pouco hipócrita, você não acha? Só porque alguém deseja uma interface super ultra simplificada não significa que a sua "geekcidade" está subitamente ameaçada.

Exemplificando: um dos membros do meu fórum (Monty) teve a gentileza me apontar, recentemente, um erro na minha forma de pensar que surgiu a respeito de um novo netbook que estava sendo lançado. O netbook simplesmente tinha a linha de comando desabilitada, entre uma ampla gama de outras funcionalidades. Me queixei sobre isso até ele observar que, para os usuários comuns, isso não importava. Para um super geek, apenas dê a ele algumas semana e ele será capaz de reabilitar essa funcionalidade e muito mais. O mesmo tipo de coisas aconteceram com o Asus EeePC, então por que com esse não? Acredite em mim, essa foi, para mim, uma revelação de proporções épicas.

No final das contas, cada um de nós precisa de um revelação pessoal. A Asus já percebeu essa mudança nos grupos de mercado. É por isso que seus netbooks com Linux estão vendendo tão bem e os netbooks da MSI não. Bem, obviamente sem contar a interface mal projetada, claro. Mas veja o EeePC. Se lembra da interface genérica que era oferecida com ele? Se lembra como tivemos um completo ataque porque era "muito simples"? Se lembra como os geeks ao redor do mundo festejaram quando alguém descobriu como deixar no "modo avançado"?

No entanto, curiosamente, muitos dos usuários menos entendidos de computadores com os quais trabalhei amam a interface simplificada. E não é apenas no EeePC que eles querem esse tipo de interface. Por exemplo, dei, recentemente, a minha mãe um tocador de MP3 que tinha 5 botões. Sem tela, sem menus, nada. Apenas cinco botões. Ela amou de paixão.

Entretanto, quando dei a ela um dos meu tocadores de MP3 antes disso, elas simplesmente atirou na parede de frustração porque era muito difícil navegar pelas pastas. Eu não achava difícil, mas ela achava. E ela não é a única a ter problemas com tecnologias como essa.

Outro membro do meu fórum (DaveB) também contribuiu com um pequeno exemplo para esse pensamento que, acho eu, se encaixa perfeitamente. Vou compartilhar aqui nas palavras dele:

Exemplificando: minha esposa não tem interesse em computadores. Até um mês atrás nunca tinha usado um computador para nada, não estava interessada.

Recentemente, ela achou necessário usar o correio eletrônico, então configurei um laptop com o PCLinuxOS 2007 para ela. Tudo que ela queria era onde clicar. Ela não tem interesse no fato de ser Linux, como o programa é chamado, por que ela está usando Linux... nada disso.

Ela está interessada em como usar.

Simples, objetivo, ela quer apenas para trabalhar. Não se importa com o resto - e sejamos honestos, não há motivo para que ela se importe.

É uma ferramenta. Precisamos saber como funciona um microondas, um abridor de latas ou a nova tela de alta definição super fina na parede? Nós queremos conectar as coisas e usá-las. Então por que deveria ser diferente com um PC ou laptop?

Esse é um argumento que indica bem o novo tipo de usuário que estamos começando a ver no mundo Linux/FOSS. E iremos encontrar MUITAS pessoas como essas que têm o pensamento "apenas funcione" conforme expandimos nossas fronteiras em direção ao mercado comum. E se eles são o nosso mercado alvo para novo usuários, o que estamos fazendo para atraí-los?

Fonte: Steve Lake@Raiden's Realm
 
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